O poema é uma fome
O poema é a fome
que corrói, mas não mata,
o corpo que nunca se satisfaz,
uma trilha, eu e você e o mar.
O poema é a orquestra harmônica
de pensamentos ensandecidos
que mordem as entranhas
fazendo retumbar o espírito.
O poema não vive na Vila Madalena.
Não, o poema não bebe Negroni.
Abraça forte, faz cafuné
quer estômago cheio
e coração tranquilo.
O poema tem 35 anos,
uma depressão moderada,
olhos nublados e mãos calejadas.
Fica nostálgico quando chove
se emociona, se mostra sem filtro.
Ansiedade galopando nas veias,
a existência tropeçando nas vielas.
O poema não tem plano de saúde,
mora num apartamento espartano
e não se reconhece na frente do espelho.
O poema é a fome de mais poesia
um mergulho no que poderia ter sido.
É vício, é viagem, é virtude, é valor
um coração que bate excitado
sonhando com a música.
O poema é o que acontece
no fundo do olhar do poeta
(bem lá no fundo)
quando ele inventa paisagens.