Foto: Daniel Apadaca

O poema é uma fome

Leonardo Castelo Branco
1 min readNov 2, 2021

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O poema é a fome

que corrói, mas não mata,

o corpo que nunca se satisfaz,

uma trilha, eu e você e o mar.

O poema é a orquestra harmônica

de pensamentos ensandecidos

que mordem as entranhas

fazendo retumbar o espírito.

O poema não vive na Vila Madalena.

Não, o poema não bebe Negroni.

Abraça forte, faz cafuné

quer estômago cheio

e coração tranquilo.

O poema tem 35 anos,

uma depressão moderada,

olhos nublados e mãos calejadas.

Fica nostálgico quando chove

se emociona, se mostra sem filtro.

Ansiedade galopando nas veias,

a existência tropeçando nas vielas.

O poema não tem plano de saúde,

mora num apartamento espartano

e não se reconhece na frente do espelho.

O poema é a fome de mais poesia

um mergulho no que poderia ter sido.

É vício, é viagem, é virtude, é valor

um coração que bate excitado

sonhando com a música.

O poema é o que acontece

no fundo do olhar do poeta

(bem lá no fundo)

quando ele inventa paisagens.

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