Meu filho

Photo: Egor Myznik

Meu filho,

aquele que não existe,

vem me visitar,

e em noites de coração embriagado,

compartilhamos uma solidão empoeirada.

Da minha velha cadeira

eu o vejo,

num silêncio elevado e

em sombras volantes,

penetrar a minha alma

sem rosto, sem sangue,

apenas a fosforescência

de um abismo insondável.

Meu filho é um tecido de sonho,

ele carrega o divino que habita em nós

e ele diz: “Papai, cadê você?”

Sua voz é um suspiro gelado,

que cresce

lenta e levemente.

Meu filho, meu pequeno,

desperta a minha vontade

de amar com urgência,

eu digo: “Filho, te amo!

Filho, eu te quero bem!”

Mas é tarde,

tornei-me um sonho de carne osso,

e mergulhado em nostalgia

fecho os olhos

e vou do reflexo à reflexão.

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